segunda-feira, 5 de abril de 2010

A produção industrial de fevereiro e o crescimento do PIB

O artigo abaixo foi publicado n'O Estado de São Paulo, em 02 de abril de 2010, página B6, com algumas simpificações e o título "Resultado amplia chance de PIB crescer até 6% neste ano".

A produção industrial de fevereiro e o crescimento do PIB.
A divulgação da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) pelo IBGE é acompanhada com bastante interesse porque essa pesquisa é bem abrangente, trazendo um retrato fidedigno do que se passa no setor industrial. Além disso, a indústria, embora tenha peso inferior a 30% no PIB, é o setor que mais influencia suas oscilações, porque seu peso é considerável e suas variações, fortes. O setor agropecuário tem pouco peso (em torno de 6%) e o setor de serviços, embora corresponda a dois terços do PIB, é pouco volátil. O crescimento que se observar na PIM-PF não será diretamente aquele observado no setor industrial do PIB, porque os conceitos e metodologias nas duas pesquisas são diferentes, mas os dados da PIM-PF são amplamente utilizados no PIB, tomados desagregadamente e reponderados de acordo com os preços do ano anterior (na PIM-PF a base de ponderação é fixa e referente a 1998-2000). Para fechar o primeiro trimestre, ainda faltam os dados de março, os dados de fevereiro ainda serão revistos e o ajuste para a sazonalidade também.
Com todos esses “poréns”, o crescimento da indústria em fevereiro, juntamente com uma hipótese para março (que tenha crescimento sobre março de 2009 intermediário entre as taxas observadas para janeiro e fevereiro), sugere que o PIB do primeiro trimestre de 2010 pode ter crescido em torno de 1,5%, na série ajustada, sobre o do quarto trimestre de 2009. Isso aumenta a chance de que o crescimento do PIB em 2010 fique entre 5,5% e 6,0%. Já tem sido bastante lembrado, mas não custa repetir, que essa taxa estará muito influenciada pela baixa base de comparação. Se o PIB de 2010 crescer, por exemplo, 5,7%, a taxa acumulada no biênio 2009-2010 terá sido de 5,5%, já que o PIB em 2009 caiu 0,2%. Na média dos dois anos, o crescimento terá sido de 2,7%, bem inferior à média de 2004 a 2008, de 4,8%. É certo que essa média elevada se deu em outro contexto internacional. No mesmo período, o PIB mundial cresceu, em média, 4,5%.
Aliás, é interessante notar que o Brasil se beneficiou da “bolha” internacional e também dos remédios aplicados nos países mais atingidos, que geraram grande aumento da liquidez internacional, em resposta à forte diminuição do crédito bancário que caracterizou a crise. No Brasil, embora o sistema financeiro estivesse sólido – e essa foi uma das razões pelas quais o país passou relativamente bem pela crise – o crédito também se escasseou fortemente, atingindo mais a indústria do que outros setores. Assim, as fortes taxas de crescimento nos dados industriais na comparação com o mesmo período do ano anterior refletem a normalização da produção do setor mais atingido. O ambiente à frente parece favorável. Embora mais lentamente do que esperado, a demanda global se recompõe, enquanto, internamente, a retomada da indústria ao longo de 2009 teria já se utilizado dos estoques gerados pela recessão. O nível de utilização da capacidade instalada na indústria, conforme medida pela Fundação Getúlio Vargas, não parece ser um fator limitante de imediato. Restam, é claro, as questões de sustentabilidade do crescimento de longo prazo, ainda por resolver, como infra-estrutura, educação e saúde, para citar algumas.
Estêvão Kopschitz Xavier Bastos.