quarta-feira, 27 de julho de 2016

Termos de troca, ganhos de comércio e crescimento da renda interna bruta real no Brasil de 1948 a 2014

Saiu um texto para discussão meu e de Pedro Américo de Almeida Ferreira sobre o efeito dos termos de troca sobre a renda real no Brasil. O trabalho calcula os ganhos de comércio que o país teve quando seus termos de troca melhoraram (ou as perdas, quando pioraram), de 1948 a 2014. Os termos de troca são a relação entre os preços das exportações e os das importações. Os ganhos de comércio não são captados pela variação real do Produto Interno Bruto (PIB), mas podem ser relevantes na variação da renda real e, portanto, do bem-estar. O agregado macroeconômico que capta o efeito dos termos de troca é a Renda Interna Bruta Real (RIBR). O cálculo da RIBR é recomendado pelas convenções internacionais, mas não é realizado no Brasil desde 1990, só existindo dados oficiais para o período 1970-1989.
A diferença entre esses dois conceitos - PIB Real (PIBR) e Renda Interna Bruta Real (RIBR) - é relevante para a análise de fases em que há significativas mudanças nos termos de troca. Por exemplo, em 1986, quando foi decretado o Plano Cruzado, é sabido que a parada súbita da inflação levou a uma explosão do consumo, motivada pelo aumento do poder de compra que essa parada propiciou, pelo abono salarial de 8% e pelo aumento do crédito, também favorecido pela estabilização dos preços. Esses fatores contribuíram para o forte crescimento do PIB naquele ano, de 7,5%, embora essa taxa tenha sido até inferior à verificada em 1985, de 7,9%. Mas o cálculo da RIBR permite adicionar à análise o fato de que esta cresceu 10,8% em 1986, crescimento bem superior ao de 1985, de 6,8%. Isto é, o boom de consumo que caracterizou o período do Cruzado foi, em parte, causado pelo aumento de renda advindo dos termos de troca. Diferença significativa aparece também em 1995, quando o PIBR cresceu 4,2% e a RIBR, 5,0%. Em 1994, ano do Plano Real, já tinha havido diferença a mais no crescimento da RIBR, que cresceu 6,2%, enquanto o PIB cresceu 5,9%. Como no caso do Plano Cruzado, o aumento da demanda contou com um “empurrão” extra dos termos de troca.
Em 2006, o PIBR cresceu 4,0% e a RIBR, 4,8%, dando início à sequência de seis anos em que a RIBR cresceu mais do que o PIBR (com exceção de 2009, quando os dois caíram, igualmente, 0,2%). O período é marcado pela expansão da economia chinesa que gerou um boom nos preços das commodities. O ciclo de alta foi interrompido por um ano em decorrência da crise financeira internacional iniciada no mercado subprime de hipotecas nos Estados Unidos. Merece destaque o ano de 2010: o PIB teve crescimento de 7,6%, muito forte para os padrões da época, e a RIBR cresceu ainda mais, 9,4%. Vale lembrar que 2010 foi ano eleitoral. De 2006 a 2011, o crescimento real da renda superou o do PIB em 3,9 pontos porcentuais. O ano de 2011 foi o último em que a RIBR cresceu mais do que o PIBR (4,7% contra 3,9%). De 2012 a 2014, foram três anos seguidos de RIBR crescendo menos do que o PIBR: no acumulado do triênio, a RIBR cresceu 1,3% menos do que o PIBR. Em 2014, enquanto o PIBR ainda apresentou crescimento ligeiramente acima de zero, de 0,1%, a RIBR caiu 0,3%.
É importante ressaltar – pois, às vezes, há essa confusão - que este trabalho não calcula quanto os ganhos dos termos de troca contribuem para o crescimento real do PIB. Ele calcula os ganhos de comércio, que são os ganhos (ou perdas) devidos aos termos de troca que não são captados pelo PIB real. Calcula o agregado macroeconômico Renda Interna Bruta Real, que é igual a PIB real + ganhos de comércio. Por definição, portanto, estes ganhos de comércio (ganhos ou perdas de renda devidos aos termos de troca) não estão medidos no crescimento real do PIB. Os termos de troca, certamente, têm influência sobre o PIB real, mas este trabalho não aborda isso.