O IBGE divulgou, em 30 de janeiro de
2014, a taxa desemprego de dezembro de 2013 e, portanto, a taxa média do mesmo
ano.
As manchetes foram:
- “Desemprego cai para 5,4% em 2013,
o menor da história” (site da Veja);
- “Desemprego fica em 5,4% em 2013, o menor da
história” (site G1 – o portal de notícias da Globo);
- “Taxa de desemprego cai para 5,4%
em 2013, a menor da história” (site do Estado de S. Paulo);
- “Desemprego recua para o menor
nível da série histórica e fecha 2013 em 5,4%” (site de O Globo);
- “Desemprego em 2013 foi de 5,4%,
menor nível desde 2002, segundo IBGE” (UOL Economia).
A melhor, quer dizer, que melhor
informa ao leitor, é a última, do UOL. Em segundo lugar, a do Globo. As outras
me deixaram muito incomodado ao falar em “menor da história”.
Em 2002 houve mudança tão
significativa na metodologia da Pesquisa Mensal de Emprego - PME, que o IBGE
interrompeu a série antiga e passou a publicar a série nova sem encadear com a
antiga, como costuma fazer com outros indicadores que sofrem mudança metodológica.
Isso fez com que a análise da taxa de desemprego perdesse perspectiva, já que
os analistas e jornalistas passaram a olhar para a série só a partir de 2002. O
gráfico a seguir mostra também a série antiga da PME e a taxa de desemprego calculada
com base na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios – PNAD, também do
IBGE. Como a PNAD é anual, mostro a série da PME também anual.
Os movimentos que podem ser
claramente observados são de uma queda forte por ocasião do Plano Cruzado
(1986), queda que sobreviveu ao fracasso do mesmo no combate à inflação, até
ser revertida na época da recessão provocada pelo confisco do Plano Collor. Os
dois primeiros anos do Plano Real, 1994 e 1995, produziram queda na taxa de
desemprego, que já se iniciara em 1993, ano de preparação do plano, mas as
crises dos países emergentes que se seguiram a fizeram subir novamente. Na
década de 2000 começa o movimento de queda, que se estende até o presente e se
mostra mais agudo na PME do que na PNAD.
Taxa de
desemprego (%) por três metodologias do IBGE
Fonte:
IBGE e IPEA
O próximo gráfico mostra a taxa de
desemprego na região metropolitana de São Paulo, segundo a Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados – SEADE, do Estado de SP. Pus em outro gráfico
porque seus números são mais altos e essa série “achataria” as demais. Os
números são maiores porque a metodologia é diferente. Mas o importante é ser
uma série só em todo o período, de 1985 a 2013[1].
Neste caso, podemos ver, claramente, que a taxa de desemprego na época do Plano
Cruzado, em 1986, e até 1989, foi mais baixa do que a atual.
Mas, em se tratando de estatísticas
econômicas, não convém fazer um campeonato muito exato de números. O que os
gráficos deixam claro é que falar de “menor da história” está errado. O certo é
falar menor da série atualmente calculada pelo IBGE, desde 2002. Infelizmente,
não consegui dados anteriores a 1980, o que nos deixa com um período muito curto
para falar em “história”, o que dizer de 2002. A taxa de desemprego está baixa,
mas esse tom épico, histórico, não ajuda a enxergar problemas que o próprio
mercado de trabalho já começa a apresentar. Além disso, esses números
favoráveis do mercado de trabalho podem ter a ver com fenômenos da demografia,
e dificilmente com políticas governamentais; afinal, que políticas do governo
estariam gerando a redução da taxa de desemprego? E o mercado de trabalho não
poderia estar tão bom graças ao crescimento econômico, que há anos é baixo. Na
verdade, tem uma leitura bem negativa disso: se o PIB cresce só a 2% há uns
três anos e o desemprego está baixo, isso pode significar que 2% é o máximo que
o Brasil consegue crescer no curto e médio prazos, o chamado crescimento
potencial. E a inflação alta, combinada com crescimento pequeno do PIB e taxa
de desemprego baixa, corrobora essa visão.
[1] O último dado disponível para 2013 é o
de outubro; o número mostrado no gráfico para a média de 2013, 10,5%, é a média
do período de nov/2012 a out/2013.